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Foto: Angelica Silveira / Especial / CP Memória |
Brasil de Pelotas. A terceira força do futebol gaúcho no momento tem uma história recente para ser contada como exemplo de reorganização de um clube. Do fatídico acidente de ônibus que vitimou três profissionais do grupo em 2009 até a vitória sobre o Ceará na última terça-feira, pela Série B do Brasileiro, muitos fatos aconteceram para mudar a vida do Xavante.
Rebaixado para a Segundona gaúcha em 2009, o Brasil se reinventou. Os anos seguintes ainda foram dolorosos, mas em 2012 tudo começou a mudar. Ricardo Fonseca, atual presidente, e Rogério Zimmermann, treinador contratado naquele ano e que continua até hoje, são apontados como principais responsáveis pela reviravolta. “Quando cheguei, falava-se muito em competições nacionais. Mas conversamos o seguinte: não adianta querer jogar o nacional se não estiver na primeira divisão do Estado”, conta Zimmermann.
“A nossa prioridade passou a ser o acesso ao Gauchão. Montamos uma equipe com jogadores experientes, acostumados a jogar a divisão principal. Dessa forma, teríamos mais chances de subir e, com o acesso, já contávamos com uma boa base”, relata o treinador. O planejamento deu certo. Em 2014, o Brasil já alcançava o título do Interior. No mesmo ano, foi vice-campeão da Série D do Brasileiro e subiu para a Série C.
“Depois que subimos no Gauchão, passamos a dar atenção ao Brasileiro. O Brasil percebeu antes dos demais a importância em se ter um calendário o ano inteiro”, explica Zimmermann. Em 2015, o Xavante foi semifinalista da Série C e habilitou-se a jogar a Série B, na qual faz excelente campanha e já garantiu, no mínimo, a permanência para 2017.
“Os resultados de campo vieram muito rapidamente. Normalmente o clube fica uns dois anos em determinada divisão para depois subir e às vezes a estrutura do clube não acompanha. Então você se vê na obrigação de melhorar tua estrutura. De 2012 para cá mudamos muita coisa. A Série B exige um estádio melhor, com um excelente gramado, boa iluminação, locais para receber a imprensa, enfim, tudo isso foi sendo aperfeiçoado”, afirma o técnico. Segundo ele, o clube teve dificuldades e atrasou salários em 2012, 2013 e 2014, mas nos dias de hoje paga rigorosamente em dia seus funcionários.
“Acho que o Brasil não tem uma estrutura como a de muitos times da Série B. Mas como subimos, corremos atrás. Não tem que pensar se tem condições. Se não tivéssemos subido para a B, talvez o estádio Bento Freitas não estivesse sendo modernizado”, conta Zimmermann. Em Pelotas, quando o treinador sai nas ruas ou vai ao supermercado, é uma espécie de celebridade. “Eu percebi que aqui havia um campo fértil, uma possibilidade de fazer um trabalho como eu sempre gostaria de fazer. Com a diretoria ao lado, escolhendo jogadores, fazendo com que eles comprassem a ideia do clube. Os profissionais têm tempo para evoluir aqui. O ambiente é contagiante”, finaliza o treinador do Brasil de Pelotas.
A nova realidade do Xavante
Torcida apaixonada e que lota o estádio, continuidade do trabalho, manutenção de boa parte dos jogadores de uma temporada para a outra, salários em dia, dívidas administráveis e patrocinadores interessados. A lista de motivos que levam o Brasil de Pelotas a ser um clube visto pelo país inteiro pelo que vem fazendo pode até ser mais extensa. Mas esses fatores explicam um pouco do sucesso do Xavante. Quando aceitou o desafio de administrar um clube endividado e na segunda divisão do futebol gaúcho, o presidente Ricardo Fonseca não imaginava que hoje contaria, com satisfação, como trilhou um caminho árduo, mas que o enche de orgulho.
“A situação na época (2012) era crítica. Nós não tínhamos calendário definido, o time estava na segunda divisão e não se sabia como pagar as dívidas. Quando conquistamos o título do Interior em 2014 e adquirimos o direito de disputar a Série D do Brasileiro, começamos a pagar as contas”, diz Fonseca. “O vestiário e o bom desempenho dentro de campo resultaram em arrecadação maior. O Brasil passou a ter mais sócios e os patrocinadores vieram investir no clube. Nós subimos para a Série C mesmo com salários atrasados”, relembra.
A realidade agora é outra. O Brasil está reformulando seu estádio. Além disso, tem uma boa cota de TV para arcar com seus compromissos financeiros. Se em 2102 o número de sócios não passava de 1,3 mil, hoje ultrapassa os 5 mil. “Só com o quadro social, conseguimos arrecadar quase R$ 400 mil mensais. Nossafolha salarial é de R$ 430 mil, bem enxuta em comparação com outras equipes da Série B”, destaca o presidente.
Com uma campanha tão destacada na Série B, não há torcedor xavante que não esteja sonhando com o acesso à Série A do Brasileirão. O clube mantém os pés no chão e sabe que precisará melhorar sua infraestrutura caso isso aconteça, mas se mostra preparado. “Temos que pensar no que é melhor para o clube. Caso aconteça de subir, há planejamento para aumentar a capacidade do estádio, teremos que acelerar essa questão. Nós firmamos contrato com a Globo (detentora dos direitos de transmissão) até 2024. Se formos para a Série A, as cotas aumentam e os números todos conhecem. Se permanecermos na B, também temos condições na questão financeira”, diz o presidente.
Com tantas perspectivas boas, o Brasil também se volta para um novo objetivo: investir nas categorias de base. A ideia é tornar-se um clube formador de atletas e arrecadar recursos com a venda de jogadores, como fazem as equipes de ponta do futebol brasileiro. “Estamos trabalhando forte nesse sentido de profissionalizar a nossa categoria de base. Queremos não só vender atletas, mas vê-los atuando no profissional do Brasil. Esse é o nosso grande projeto para 2017”, encerra o presidente Ricardo Fonseca. Na próxima terça-feira, tem Brasil e Sampaio Corrêa pela Série B.